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Vale do Catimbau: trilhas, hospedagem e fotos do paraíso selvagem de Pernambuco

O Parque Nacional do Vale do Catimbau é o segundo maior parque arqueológico do Brasil, com 62.297 hectares de extensão. Ele está situado em uma zona de transição entre o Agreste e o Sertão de Pernambuco, compreendendo três municípios Buíque, Ibimirim e Tupanatinga.

Também chamado de Paraíso Selvagem, o Vale do Catimbau une história, cultura e turismo. Através das formações rochosas, das pinturas rupestres e das plantas encontradas na região é possível entender sobre a formação do parque, os povos que habitaram o local e as riquezas naturais pernambucanas.

Entre os principais atrativos turísticos estão a Pedra do Cachorro, a Trilha da Igrejinha, o Chapadão, os Sítios Arqueológicos, as piscinas naturais e as cachoeiras. No entanto, ainda há muito a ser descoberto no parque e cada simples acontecimento natural, como o nascer e o pôr-do-sol, ganha uma enorme proporção nos horizontes desse território.

Conhecendo a magnitude do Parque Nacional do Vale do Catimbau, o Viva Agreste embarcou em uma imersão comandada pelo guia turístico Rindo. Durante três dias nossa equipe viveu e explorou as aventuras e belezas desse precioso lugar pernambucano. E o resultado dessa experiência você acompanha agora!

História do Parque Nacional do Vale do Catimbau (PE)

Antes de descobrir onde se hospedar e o que fazer no Vale do Catimbau, é importante conhecer a história desse território milenar localizado em Pernambuco. O Parque é um dos cinco sítios arqueológicos do Agreste.

A história do Vale do Catimbau começa entre 10 a 6 milhões de anos atrás
Vista da Trilha Amburana ou Umburana, sendo possível ver um paredão de rochas e a depressão sertaneja (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

A origem do nome tem dois significados possíveis. Segundo a tradição africana, Catimbau significa “Reza e Crua”. Já seguindo as tradições indígenas, o termo quer dizer “Morro sem ponta”.

De acordo com o guia turítico Rindo, a história do Vale começa entre 10 e 6 milhões de anos atrás, quando houve um choque entre duas placas tectônicas.

“Aquela história que a gente já escutou que o Sertão já foi mar, é tudo verdade. Uma placa tectônica chamada Placa Tectônica de Nazca bate na Placa da América do Sul. Ela bate e monta, então existe uma sobreposição dessas placas. Esse choque dá origem a Cordilheira dos Andes. Sendo que isso fez um peso tão grande no lado oeste da América do Sul que o lado leste ficou um pouquinho mais alto. Então essa elevação fez com que o Nordeste saísse um pouco do fundo do mar. Então a parte que tava submersa ela simplesmente aparece. Esse processo demorou milhares de anos para acontecer até chegar nessa geografia que a gente conhece hoje”, explica Rindo.

Então, o Vale do Catimbau nada mais é do que o resultado da erosão causada por água depois que a Cordilheira dos Andes aparece.

Formações rochosas e vegetação

A formação básica do Parque é composta por arenito, calcário, óxido de ferro e argila, que pode ser nitidamente percebida através da coloração das rochas. Além disso, essa junção permitiu que a água esculpisse de um jeito muito fácil as formações rochosas do lugar.

Já a rica biodiversidade do Vale do Catimbau é decorrente do bioma e do ecossistema encontrados nessa zona de transição. Em anos mais quentes e com pouco volume de chuvas, a Caatinga predomina os cenários naturais. Enquanto que em anos mais chuvosos, a Restinga tenta prevalecer.

O Vale do Catimbau tem vegetação característica da Caatinga e de árvores da Mata Atlântica
A vegetação do Vale do Catimbau é composta por Caatinga e Restinga (Foto: Kaká Bezerra/Viva Agreste)

Com isso, o segundo maior parque arqueológico do país apresenta uma enorme variedade de plantas que se adaptaram ao clima da região. Inclusive, árvores nativas da Mata Atlântica, como aroeira, pau d’arco, cedro, gameleira, ipê e outras que, por seleção natural em busca de proteção do sol, possuem um formato menor e mais torto.

Ipê, pau d'arco, cedro e outras plantas da Mata Atlântica podem ser encontradas no Vale
Ipê, nativo da Mata Atlântica, é encontrado na Trilha das Amburanas com folhas pequenas (Foto: Kaká Bezerra/Viva Agreste)

Também são encontradas diversas espécies de aves, répteis, mamíferos e insetos na região, que comprovam a biodiversidade presente em Pernambuco.

Trilhas para fazer no Vale do Catimbau

Existem centenas de passeios para fazer no Parque Nacional do Vale do Catimbau, entre trilhas, sítios arqueológicos, escaladas, banhos em pisicinas naturais e até em cachoeiras. Para quem gosta de aventura, também é possível fazer travessias, longas caminhadas que vão de um dia a outro no meio da Caatinga.

A seguir, separamos algumas das 13 trilhas possíveis e os principais passeios turísticos para se fazer no Vale. Confira!

Trilha da amburana

Também chamada pelos nativos de Trilha da Umburana, fica situada na localidade da Igrejinha. É uma das trilhas mais fáceis de fazer e, ao mesmo tempo, uma das mais impressionantes, porque dá para ver a formação rochosa do Parque.

Além disso, a trilha da amburana, nome de uma árvore comum da região, permite a apreciação de uma vista privilegiada da depressão sertaneja, pois está a 850 metros de altitude.

A Depressão Sertaneja vista pela Trilha da Amburana (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Ao longe, também é possível ver todas as erosões horizontais do paredão esculpido pela água ao longo de milhares de anos.

Viva no Vale: Na trilha da umburana, os guias Rindo e Uoly nos apresentaram diversas curisiodades sobre a fauna e flora da região. Logo no início, Rindo encontra um matinho e ao cavar nos mostra a cebola braba, que era usada pelos indígenas na caça de animais de pequeno porte, pois é uma cebola tóxica que causa paralisia. Mais a frente, Uoly nos apresenta a formiga leopardo, uma espécie que vive solitária e possui garras bem diferentes das tradicionais formigas. Também conhecemos espécies de plantas que servem como chá, como o alecrim sertanejo e a canelinha. Por fim, Uoly ensina como fazer fogo na mata usando pederneira e fibra do facheiro.

Trilha do Chapadão

O Chapadão é um dos cartões postais mais emblemáticos do Vale do Catimbau, e por isso não pode faltar no roteiro de viagem. São 200 metros de altura no seu ponto mais alto e da ponta do abismo é possível ver o paredão esculpido pela água, com todo o sedimento exposto.

É impactante ver a profundidade e a imensidão do Chapadão. Além de toda a beleza, ele tem uma importante simbologia, pois acredita-se que o local tenha sido o final do processo de erosão que aconteceu para a formação do parque.

Viva no Vale: A Trilha do Chapadão foi nosso segundo passeio no Vale do Catimbau. Além de tirar fotos lindíssimas, também conhecemos a batata de peba, um tubérculo suculento, crocante e doce. Além de descobrirmos o croá, planta da família das bromeliáceas que serve de alimento em ocasiões extremas na Caatinga, pois seu talo é uma espécie de palmito rico em água, e sua fibra rende uma corda resistente muito utilizada na construção de casas de taipa. Tentamos pegar o pôr-do-sol em uma das vistas privilegiadas que Rindo conhece, mas não chegamos a tempo, fomos apreciando na caminhada. Apesar disso, ficamos vislumbrados com a tonalidade rosa do céu, cortada por uma única faixa azul. Finalizamos o primeiro dia no Parque tomando café torrado na hora, em um fogo de lenha, moído pelos filhos do artesão Guga, que também nos apresentou suas carrancas talhadas em madeira característica da região.

Pinturas rupestres e sítios arqueológicos

Não dá para visitar o Vale do Catimbau e não conhecer os sítios arqueológicos que guardam pinturas rupestres milenares. Em uma só caminhada dá para conhecer a Loca das Cinzas e a Casa de Farinha, dois espaços com artes rupestres de tradições diferentes.

Na Loca das Cinzas, encontramos pinturas rupestres da Tradição Nordeste, que podem ter até 6.600 anos. Já na Casa de Farinha, as pinturas datam até 3 mil anos e são de Tradição do Agreste.

Pinturas rupestres do Sítio Arqueológico Loca das Cinzas, onde são encontradas pinturas de Tradição Nordeste (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

A grande diferença entre essas pinturas rupestres é que as de Tradição do Nordeste possuem movimento, sendo capazes de narrar uma história. Elas representam danças, rituais e até mesmo cenas de sexo. Enquanto que as pinturas de Tradição do Agreste são estáticas e não dá para fazer uma leitura trazendo para nossa realidade.

Pinturas Rupestres de Tradição do Agreste encontradas no Sítio Arqueológico Casa de Farinha (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Viva no Vale: No nosso segundo dia de Vale, antes de chegar na Loca, Rindo parou o carro no meio da mata para mostrar a resina de jabuticaba. A substância se assemelha a uma pedra e quando entra em combustão exala um perfume maravilhoso, sendo um excelente incenso natural. Já a caminhada para os sítios arqueológicos nos leva até próximo de um paredão exuberante de rochas, que pode ser visto de longe no camping onde ficamos hospedados. Fizemos todo o percurso embaixo de uma garoa e foi possível ouvir um som diferente saindo do paredão. Rindo afirmou ser a primeira vez que ouviu aquele som, e associou a sonoridade a alguma ave da região. Na Loca das Cinzas, fomos surpreendidos por uma pedra de óxido de ferro, que produz uma coloração bastante semelhante à das pinturas rupestres. Também conseguimos ver de perto várias etapas do processo de sufocamento que a gameleira provoca em palmeiras, um processo natural e impressionante.

Trilha da Igrejinha

A Trilha da Igrejinha é composta por rochas com cores vibrantes e formações bem diferenciadas. Por exemplo, a pedra furada é uma das mais famosas do lugar.

Trilha da Igreginha é uma das mais famosas e fáceis de se fazer (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

O ponto forte dessa área é apreciar as paisagens naturais e a depressão sertaneja que impacta qualquer visitante.

Rindo em cima de uma pedra e diante da Depressão Sertaneja (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Viva no Vale: Esse é um dos passeios mais rápidos do Vale, e fizemos logo após conhecer os sítios arqueólogicos e as pinturas rupestres. As rochas formam desenhos diferentes, como uma das pedras que parece um golfinho. O vento na área é bem forte e sentar em uma das pedras para apreciar a vista de boa parte do Vale do Catimbau impressiona.

(Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Trilha Toca do Vale

A extrema beleza e exuberância dos lapiais recompensa toda a extensa subida da Toca do Vale. Logo depois, é possível conhecer a Serra das Torres e, ao escalar uma das mais de sete formações rochosas, o aventureiro pode desfrutar de uma linda vista para o horizonte.

Saindo da Serra das Torres, o abismo oferece uma impressionante visão para a Pedra do Cachorro. Os cascos de tartaruga estão na descida da Toca do Vale, e é impossível não associar essas formações ao animal que lhe dá o nome.

Visão de um ângulo diferente na descida da Serra das Torres (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Viva no Vale: Logo na chegada da Toca do Vale fomos recepcionados por um lindo arco-íris. Na subida, Rindo encontrou diversos formigões que podem chegar até 4 centímetros. Segundo o guia, a picada desse inseto causa dor intensa, inchaço e vermelhidão, mas também há indícios de que sua picada pode ter efeitos analgésico e anti-inflamatório. Essa trilha foi o nosso último passeio no Vale do Catimbau, e foi feita no final da tarde, por isso conseguimos ver o pôr-do-sol sentados em uma das torres, com uma vista pra lá de privilegiada. Descemos a Toca do Vale e já estava escurecendo, mas ganhamos de brinde uma lua enorme e brilhante.

O que tem para fazer no Vale do Catimbau?

Segundo Rindo, são mais de 10 trilhas disponíveis para os turistas vivenciarem o Parque Nacional do Vale do Catimbau. Além dos passeios já citados, fazem parte de outros roteiros:

  • Pedra do Cachorro: possui um formato muito semelhante a cabeça de um cão. Além da trilha, é possível escalar a pedra;
  • Cachoreiras: passeio ideal para quem visita o Parque no inverno, pois as chuvas são mais intensas e levam os dejetos de animais para longe, proporcionando um banho em águas limpas;
  • Piscinas naturais: encontradas próximas das cachoeiras ou dentro de alguns espaços privados;
  • Santuário: trilha de 6 km, que possui uma pedra com formato de santa, símbolo muito representado por quem trabalha com artesanato na região;
  • Visitar artesãs e artesãos: Luiz Benício e Guga são alguns dos artesãos do Vale do Catimbau que fazem esculturas de madeiras, além de Simone Souza, uma das artesãs famosas do Agreste e que fica próxima ao Rindo Eco Camping.
Segundo Simone Souza, outras 19 pessoas trabalham com ela direta ou indiretamente
Simone trabalha com esculturas de madeira há 18 anos (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Confira como foi a imersão no Vale do Catimbau

Pousada, chalés ou camping: onde se hospedar no Vale do Catimbau?

Existem diversas opções de hospedagem no Vale do Catimbau, umas mais próximas do Parque e outras mais próximas das cidades que o compõe, como Buíque. A escolha do turista vai depender do estilo que ele tem, pois há pousadas, chalés ou até mesmo campings.

A equipe do Viva Agreste escolheu se hospedar no Rindo Eco Camping, que dispõe de chalés e espaço para camping. No lugar, também há restaurante, servindo café da manhã, almoço e janta. Mas para quem deseja fazer a própria comida, o espaço também dispõe de uma cozinha comunitária.

Há ainda espaços de lazer, como redes normais e suspensas, piscina e local para fogueira. Ao lado da cozinha tem também uma sinuca.

Um dos chalés do Rindo Eco Camping (Foto: Lucas Santos/Viva Agreste)

Veja a seguir os valores de hospedagem e alimentação no Rindo Eco Camping:

  • Chalés para duas pessoas: Chalé simples com cama de casal R$ 120, Suíte, com cama e banheiro, R$ 180, e o Master, com cama, banheiro e frigobar, R$ 200.
  • Camping: a diária sai a R$ 30 por pessoa, no espaço há banheiros comunitários.
  • Refeições: Com um cardápio regional, variado e com opção vegetariana*, Rindo Eco Camping cobra R$ 20 por pessoa para o café da manhã, R$ 30 para almoço e R$ 20 para o jantar.

*As opções vegetarianas devem ser solicitadas com antecedência. Para realizar reservas e ter mais informações sobre o lugar de hospedagem, é necessário entrar em contato pelo telefone: (81) 99542-2141.

Outras alternativas de hospedagem no Vale do Catimbau são: Ecocamping da Gê, Ecocamping Pé da Serra, Pousada Maria Vitória, Pousada Vale do Catimbau e Pousada Santos.

Restaurantes no Vale

Além de fazer refeições onde se está hospedado, o Parque oferece outras opções de restaurantes próximos. Algumas das opções mais conhecidas são: Restaurante Toca do Vale, Restaurante do Vale e Restaurante Sabor do Vale.

Dicas e curiosidades sobre o Vale do Catimbau

Ainda ficou com alguma dúvida sobre a viagem ao Vale do Catimbau, então confira as respostas das principais perguntas a respeito do segundo maior parque arqueológico do Brasil.

1. Quanto custa para entrar no Vale do Catimbau?

Além de pagar a diária dos guias, é necessário pagar uma taxa de R$ 10 por pessoa para cada trilha realizada. É importante destacar que o Vale do Catimbau é privado e a taxa é paga aos nativos que cuidam e preservam o local.

2. Qual guia contratar?

A equipe do Viva Agreste contratou o Rindo Aventura, que tem como guias o próprio Rindo, o especialista em serpentes Uoly, e o Senildo, que é nativo do Vale.

Os valores da diária dependem do tamanho do grupo. Por exemplo, a diária do guia para duas pessoas é R$ 150, para três pessoas fica R$ 75 para cada. Grupos de quatro a seis, o valor fica de R$ 65 por pessoa. E grupos maiores, de sete a 10, a diária sai a um valor de R$ 50 por pessoa.

Grupos maiores, de excursão ou de escolas, podem entrar em contato com o guia para verificar os valores especiais. Para entrar em contato, o telefone é: (87) 98141-3011.

Também é possível entrar em contato com a Associação de Guias Turísticos do Vale do Catimbau e solicitar indicação de algum guia local.

3. Qual a distância do Vale do Catimbau e Recife?

292 km separam o Vale do Catimbau da capital pernambucana, Recife. A viagem feita de carro pode levar em torno de 4 horas, mas também existe a opção de excursão programada por agências de turismo.

4. Quais novelas já foram gravadas no Vale do Catimbau?

A novela Mar do Sertão (2022/2023), produção da Tv Globo, teve como um de seus cenários o Vale do Catimbau. Além dessa novela, as belezas naturais do Parque também serviram para as gravações de diversos filmes, como Entre Irmãs (2017), Big Jato (2015), Árido Move (2005) e a produção estadunidense Gerônimo (1962).

Fotos do Vale do Catimbau

Gostasse desse conteúdo sobre o Parque Nacional do Vale do Catimbau? Pois já manda para aquela pessoa querida que vai amar fazer essa viagem contigo para descobrir e explorar as belezas naturais do segundo maior parque arqueológico do Brasil!

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