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Festival Canto da Patativa: o grito de reinvidicação dos artistas caruaruenses

Discutir os rumos das políticas culturais de Caruaru e mostrar toda a riqueza, diversidade e potência da música autoral produzida na cidade. Essas são algumas das pautas levantadas e defendidas pelo Festival Canto da Patativa, que aconteceu no último sábado (6), no Agreste Central de Pernambuco.

O evento independente contou com o apoio da própria sociedade, através de uma vaquinha virtual, de empresas privadas e de artistas caruaruenses de diversas linguagens artísticas. Ao todo passaram no palco 63 profissionais da música, teatro e dança.

Todos os artistas no palco
63 artistas passaram pelo palco do Festival Canto da Patativa (Fotos: Arnaldo Felix)

“Nos juntamos em junho para falar sobre as nossas inquietações, a política cultural aqui em Caruaru. Uma turma de artistas se encontrando e conversando, e a gente decidiu fazer o festival. E dentro das ações, a gente queria promover um debate com a sociedade e com a gestão sobre os caminhos das políticas culturais aqui em Caruaru. Então, hoje a gente realizou o sonho, podemos dizer assim”, afirma uma das produtoras do Canto da Patativa, Kelly Moura.

As inquietações dos artistas partem da premissa que boa parte deles, responsáveis por agitar a cultura local, não teve espaço no edital do São João de 2022. A partir desse questionamento, o grupo pensou em criar um evento que valorizasse a produção artística de Caruaru.

“A gente veio realmente reivindicar vários momentos de defasagem do edital do próprio São João de Caruaru, buscando melhorias mesmo, porque a gente trabalha com arte o ano inteiro. Então, a gente não pode se resumir a só trabalhar durante o São João ou só trabalhar na Semana Santa e Natal”, explica o artista Jackson Freire.

Com uma diversidade de estilos musicais, o Festival Canto da Patativa contou com shows de mpb, rock, pop e música alternativa. A proposta é realmente valorizar o que é produzido no Agreste do Estado, por isso subiram no palco Matheus Silva, Daniel Finizola, Renata Torres, Cais do Agreste, Valdemar Neto e 70 MG.

Além de música, o evento contou com intervenções cênicas do coletivo feminino “As Madalenas”, dança e também uma Feira Criativa com empreendimentos locais.

“A gente tem esse momento grandioso que é está fazendo parte desse festival junto com uma galera que quer fazer, com grandes potências da música local. E passando essa mensagem: a gente consegue, a gente pode fazer a cena local, a gente pode correr atrás do nosso sonho, a gente pode mobilizar a arte independente”, celebra o artista Rosberg Adonay.

Segundo Kelly Moura, a expectativa é que a organização possa realizar outras edições e consiga fomentar cada vez mais o debate sobre a valorização do artista caruaruense. “Vamos juntos construir uma Caruaru diferente, uma Caruaru que apóia seu artista, que fomenta sua arte e que, principalmente, dá dignidade a esse artista pra viver da sua arte”, finaliza.

Por que Festival Canto da Patativa?

Patativa é o nome de um pássaro típico da região e um dos símbolos da Princesinha do Agreste, por essa razão foi escolhido como nome do Festival.

Artistas questionam gestão de Cultura de Caruaru

Durante toda a divulgação e realização do Festival, os artistas fizeram vários questionamentos sobre como a cultura em Caruaru é pautada. Além de indagar o porquê da centralização da cultura local em eventos como São João e Semana Santa, o grupo também fez outros apontamentos.

“Por que uma cidade com todo o potencial cultural que Caruaru tem, ainda não tem um Fundo Municipal de Cultura?”, questiona Jackson Freire, em um dos vídeos divulgados no perfil do Festival no Instagram.

Outra ação do grupo de artistas foi o lançamento de uma Carta Aberta da Cultura. Leia a carta na íntegra:

Caruaru é reconhecida pela sua capacidade de gerar cultura nas mais diversas expressões. Ao mesmo tempo que carregamos essa característica, sofremos com a negligência de políticas públicas ligadas ao setor cultural. A Fundação de Cultura é um instrumento pública que há tempos resume-se a produção de um evento, o São João. Nossa cidade e referência de festejos juninos para todo o Brasil e quem construiu essa história, muitas vezes, não recebe a devida importância e valorização.

Algumas reflexões são necessárias diante do cenário cultural da cidade. Quanto é o custeio mensal da Fundação de Cultura e quando ela entrega à sociedade caruaruense a título de gestão e fomento à cultura? Quanto temos no orçamento municipal para o setor da cultura?

Esses são questionamentos e informações fundamentais para que a classe artística da cidade tenha real ciência do quando a cultura é prioridade na gestão da cidade.

Esse ano, há poucos dias da Abertura do São João 2022 tivemos declarações de gestores de cultura de nossa cidade que configuravam censura. Em uma tentativa de corrigir tamanho absurdo, a gestão terceirizou a responsabilidade. Seguimos com um edital de contratação para os festejos juninos sem transparência e cheio de resultados contraditórios onde não se compreende de forma objetiva quais os critérios a serem cumpridos para que haja a contratação.

É imperativo que aqueles que fazem cultura sejam ouvidos da hora da elaboração de políticas públicas para o setor, bem como na construção de editais. A falta de diálogo efetivos entre os gestores da Fundação de Cultura e classe artística, só demostra um total desrespeito ao patrimônio cultural de nossa cidade, elaborado por homem e mulher de cada canto dessa cidade e zona rural.

Somos uma cidade de mais de 350 mil habitantes que há anos não têm uma biblioteca pública. O teatro João Lyra, que esse ano completa 50 anos de história e grandes espetáculo, precisa de mais cuidado e atenção por parte da gestão de cultura do município.

Entendemos que para mudar esse contexto cultural em Caruaru é necessário:

1 Fóruns permanentes com pautas específicas, planejamento, cronograma e orçamento municipal;

2 Desenvolver o fundo municipal de cultura e mecanismos de financiamento, onde o acesso ao recurso deve ser por meio de edital;

3 Participação efetiva dos artistas na criação de políticas públicas para o setor cultural;

4 Que o edital do São João seja mais transparente e objetivo nos critérios de classificação e contratação;

5 Polo Azulão possa ter mais dias na grade do São João e contemple 70% da grade com artistas locais.

6 Que os equipamentos públicos da cidade (praças, teatros) possam receber atividade culturais de todas as linguagens periodicamente;

7 Que as escolas municipais contemplem em sua grande, de forma periódica, atividades ligas a cultura (música, teatro, artes visuais, cinema, dança entre outras linguagens);

8 Que a contratação para todos os eventos da cidade seja feito por meio de edital como no mínimo com no mínimo 70% dos artistas caruaruenses.

9 Que permanentemente a Fundação de Cultura da cidade promova oficinas de formação e profissionalização para os artistas da cidade.

Confira as fotos do Festival

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