“Enraizado” é o título do primeiro álbum do artista Ciel, lançado em 2019. “De lá pra cá muita coisa mudou, eu mudei bastante”, diz o artista. “Ciel Ao Vivo”, lançado em duas partes no YouTube, registra essa mudança também refletida no repertório do disco.
“Quis trazer isso na sonoridade e na estética desse trabalho, onde a cultura popular dialoga com o POP e outras linguagens, tô bem feliz com o resultado”, diz.
O show, gravado no Teatro Luiz Mendonça, no Recife, conta com 10 canções divididas em dois atos.
A banda que acompanha Ciel no palco é composta por Mauricio Cezar (teclados e sanfona), Nana Milet e George Rocha (percussão), Del Lima (baixo) e Silva Barros (bateria).
Além de contar com participações espaciais, como Bella Kahun, Una Martins, Álefe Passarin, MunHá e Gonzaga Leal.
“Todas as músicas fazem parte do álbum Enraizado que tem uma narrativa musical meio biográfica, uma canção completa a outra. Queria trazer artistas que de alguma forma dialogassem com o meu trabalho. As participações foram muito bem pensadas e acho que acertamos”, comemora Ciel.
Lado A
A primeira parte de “Ciel Ao Vivo” inicia com imagens do artista se produzindo para o show e a descontração com a banda nas ruas do Recife. Enquanto isso, o próprio Ciel narra um prólogo que convida o público para o espetáculo.
“Abram as portas, gavetas, cadeados
abram-se os sorrisos, prosas e versos
as asas para brincar no tempo
as oiças para escutar o vento.Quando eu cantar, fique de orelha em pé,
encantados e orixás colorem minha voz,
me dão força, axé.Sei da raiz, das juremeiras floridas,
do canto das cigarras, das procissões doloridas.
Dos paus de arara, das feiras e de tantas noites longas.Abram as portas, acordem a lamparina celeste.
Venham, venham todos!
Olhai e apreciai
a Princesinha do Agreste”
“Princesinha do Agreste é uma expressão antiga usada para homenagear Caruaru. Um dia numa roda de conversa entre amigos me chamaram assim, eu adorei! Uso com todo respeito e orgulho”, explica.
“Coração”, terceira canção dessa primeira parte, conta com a voz e todo o charme de Álefe Passarin.
Bela Kahun e Una Martins também dividem o palco com Ciel. Cantando “Corpo”, o trio faz todo mundo dançar com uma versão bem breguinha.
Lado B
Já o Lado B, lançado no final de novembro, traz participações especiais em duas das cinco canções. “Terra” tem a participação da artista Mun Há, apresentada por Ciel como “a não binária do brega”.
“Conheci Mun Há numa edição do Abril pro Rock em 2018, fiquei impressionado com a força artística dela e ficamos mantendo contato. Na primeira oportunidade fiz o convite e ela prontamente aceitou. E que contribuição, né? Rolou uma energia massa no palco”, relembra.
A outra participação é do artista Gonzaga Leal, em “Transcendo”. O cantor e compositor pernambucano recita as duas primeiras estrofes da canção:
“Não me venha jogar nas costas
o peso que não quero carregar,
não me venha plantar pensamentos
que eu não quero germinar.
Não serei o ventríloquo
no teu circo
de um palco sem chão”
Entrevista: Quem é Ciel Santos?
Nossa redação entrou em contato com a produção de Ciel para falar sobre o lançamento do “Ciel Ao Vivo”, mas também para conhecer mais sobre a vida, o trabalho e as opiniões desse artista agrestino.
Acompanhe a entrevista a seguir!
Viva Agreste: Quem é Ciel? Conta um pouquinho da sua história, onde nasceu, como a música entrou na sua vida?
Ciel: Sou filho de agricultores, natural de Sapucarana, área rural de Bezerros. Comecei nos palcos como ator e bailarino do Balé Popular Papanguarte e a música sempre fez parte do meu imaginário. Eu escutava muito rádio e fui fortemente influenciado pelos gostos musicais dos meus pais, que sempre estavam com o toca fitas ligado.
Viva Agreste: Nas letras das suas músicas, nos ritmos e até nas danças é possível perceber uma forte influência de religiões de matrizes africanas. A cultura e religiosidade afro influenciam teus trabalhos? Também são referências para você?
Ciel: Sou do candomblé e faço cultura popular. Sabemos que a maioria dos folguedos tem uma ligação muito forte com as religiões africanas e indígenas, essas influencias são um grande alicerce na minha arte.
Viva Agreste: De onde mais vem inspiração para você compor?
Ciel: Do caos da minha mente, das minhas vivencias e principalmente da liberdade em criar. Mesmo sendo formado em música o meu método de composição é bem desprendido de formulas acadêmicas. Na hora de compor tento não ter apego a letras e melodias e isso tem sido bem útil.
Viva Agreste: No final do Lado B você fala das pessoas que lutam para transformar nossas vidas com arte. Esses últimos 6 anos foram bem difíceis para quem trabalha com cultura, tanto pela pandemia, mas também pelo cenário político. O que você espera para a cultura com o governo Lula assumindo?
Ciel: Para nós, artistas independentes, a luta é diária, pois o mercado ainda é bastante conservador e cheio de bolhas que são bem difíceis de furar. Os últimos anos foram bem pesados e mesmo a arte salvando a cabeça de muita gente, artistas ainda passam maus bocados. Acredito que com o presidente Lula a cultura volte a ter a devida atenção e que mais espaços sejam oferecidos para quem faz arte no país.
Viva Agreste: “Ciel Ao Vivo” é um projeto incentivado pelo Funcultura. Também gostaria de saber como você vê a atuação das políticas culturais aqui no Estado? Você acha que elas estão chegando também ao interior?
Ciel: Sim estão. Acredito que é uma via de mão dupla, sabe? Mesmo com todo acesso e com a existência de leis de incentivo, cabe a nós artistas e produtores nos organizar, profissionalizar, cobrar nossos direitos e fazer a engrenagem andar.
Viva Agreste: A gente não pode encerrar a entrevista sem falar dos seus figurinos, que são um espetáculo a parte. Quem pensa, cria e elabora essas roupas e acessórios? Elas têm alguma relação com a música?
Ciel: Moda sempre me fascinou, é uma forma de criar uma identidade, é como você se mostra para o mundo. No palco é onde eu me conecto com minha criança interior, tudo eu posso, sabe? O figurino para mim é uma extensão da música e completa a persona artística. Adoro criar os looks e muitos deles saem da minha cabeça, mas ninguém faz nada sozinho, né? Tenho ajuda de estilistas, costureiras e stylings super talentosos.
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