Você sabia que dezenas de comunidades quilombolas estão localizadas no Agreste de Pernambuco? Esses grupamentos se formaram durante o regime escravocrata que vigorou no Brasil por mais de 300 anos e que só foi abolido em 1888. As comunidades quilombolas eram constituídas por negros escravizados que conseguiam fugir para terras livres e isoladas e ali passaram a viver, construir suas famílias e obter seu sustento.
Atualmente existem 3.495 comunidades desse tipo distribuídas por todo o território nacional, estando presentes em quase todos os estados do país. De acordo com a Fundação Cultural Palmares, na região Nordeste, quatro estados se destacam quanto ao número de remanescentes desses povos: Maranhão, com 846 comunidades; Bahia, com 829 comunidades; Pará, com 264 e Pernambuco, com 195.
No estado pernambucano, a maior concentração dessas sociedades está na região Agreste, com mais de 50 remanescentes de quilombos registradas. No entanto, outras dezenas de comunidades se encontram em processo de certificação.
Comunidades quilombolas no Agreste de Pernambuco
Assim como a maioria das comunidades quilombolas, as inseridas no Agreste de Pernambuco apareceram após a destruição do Quilombo dos Palmares, em 1694. Esse quilombo foi o maior existente no Brasil no período colonial, com mais de 20 mil habitantes. Com sua extinção, a população que lá vivia precisou buscar novos esconderijos.
Em Pernambuco, a região Agreste é a que mais abriga comunidades quilombolas registradas pelo governo em comparação com as regiões do Sertão, Zona da Mata e Litoral. São 52 comunidades divididas em 21 municípios do Agreste.
O município que possui o maior número de comunidades quilombolas é Bom Conselho, situado no Agreste Meridional pernambucano, com 11 grupamentos certificados pela Fundação. Já é em Garanhuns, ainda no Agreste Meridional, que está a Comunidade Quilombola de Castainho, pioneira no processo de titulação das terras pelo Estado de Pernambuco e que é composta por mais de 150 famílias.
Comunidades Quilombolas em Garanhuns
De acordo com a Fundação Cultural Palmares, existem seis comunidades quilombolas registradas e certificadas na cidade de Garanhuns: Caluete, Castainho, Estiva, Estrela, Tigre e Timbó.
Castainho está situada na zona rural do município de Garanhuns, ficando a oito quilômetros do centro da cidade e possui uma área aproximada de 190 hectares. Ela foi reconhecida em 1998 pela Fundação como remanescente de quilombos, mas só em 2004 que seu território foi demarcado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em 2020 recebeu o primeiro título de posse coletiva da terra dado pelo governo pernambucano.
O uso da terra é dividido entre agricultura e pecuária, sendo o plantio da mandioca a principal fonte de renda. A farinha, a goma e a massa da mandioca são vendidas nas feiras de Garanhuns e das cidades adjacentes.
Como forma de preservar a cultura e a tradição das origens africanas, a comunidade realiza todos os anos, no mês de maio, a Festa da Mãe Preta, que homenageia a mulher mais velha da população, com danças, músicas e shows artísticos.
“A contação de histórias por meio da arte é de grande importância para os povos de quilombos. É uma forma de manter a nossa história e o passado de luta dos nossos ancestrais vivos. Porque se não fossem eles, nós não estaríamos aqui”, declarou a moradora de Castainho e membro da comissão estadual das comunidades quilombolas de Pernambuco, Edivane Lopes.
A celebração só foi aberta ao público em 1986, antes era restrita aos moradores.
Quilombo Serrote do Gado Brabo
Na zona rural do município de São Bento do Una, no Agreste Central, se situam cinco comunidades remanescentes de quilombos: Jiraú, Caibra, Caldeirãozinho, Primavera e a que originou todas elas: o quilombo Serrote do Gado Brabo.
A Comunidade Quilombola Serrote do Gado Brabo ocupa 15 hectares e foi a primeira a se instalar nas imediações da cidade. Com a sua contínua expansão, criou ramificações, originando novas comunidades, todas elas próximas geograficamente.
Lá, atualmente, vivem 65 famílias que trabalham com a agricultura de subsistência, em sua maioria, mas que também realizam oficinas para a produção de bonecas de cabaça e enfeites domésticos que são vendidos em feiras e eventos das proximidades.
Comunidades quilombolas de Bom Conselho
No município de Bom Conselho, no Agreste Meridional pernambucano, existem 11 comunidades quilombolas certificadas: Angico, Angico de Cima, Barrocão, Isabel, Macacos, Sítio Flores, Lagoa Cumprida, Queimada Grande, Mocós, Lagoa Primavera e Sítio Amargoso.
A comunidade quilombola do Sítio Flores está situada a 15 quilômetros do centro da cidade e é uma das mais expressivas da região, com cerca de 85 famílias e um total de 300 habitantes, aproximadamente. O nome da comunidade está associado à presença de inúmeras árvores que na época das chuvas floresciam e chamavam a atenção dos que por ali passavam.
Mais próximo da cidade, a apenas nove quilômetros, está a comunidade Angico de Cima, que possui 50 hectares de área reconhecida. Ela é uma das mais populosas de Pernambuco com aproximadamente 2.000 habitantes divididos em 190 famílias. A comunidade mantém viva as raízes africanas a partir da pratica do reisado, da capoeira, da ciranda e da dança de coco. No mês de novembro, a comunidade celebra a festa de Nossa Senhora do Rosário, eleita a padroeira dos negros.
Quilombo Imbé
No município de Capoeiras estão três comunidades quilombolas certificadas: Imbé, Fidelão e Cascavel, todas elas localizadas na zona rural, a cerca de 15 quilômetros do centro da cidade.
A maior delas em número de habitantes é Imbé, com aproximadamente 800 pessoas distribuídas em 115 famílias. De acordo com o líder comunitário, Crispim Gueiros, a comunidade foi formada pela sua bisavó, uma angolana escravizada no sul de Alagoas e que conseguiu escapar do cativeiro. “Do grupo que conseguiu fugir, grande parte foi para onde hoje é Castainho, em Garanhuns. Um pequeno grupo ficou por aqui e criou o Sítio Imbé”, explicou Crispim.
Os moradores do Sítio Imbé, assim como os das comunidades de Fidelão e Cascavel, ganham a vida com o cultivo da terra e com a criação de animais; uma pequena parcela está empregada no comércio e na prestação de serviços na zona urbana de Capoeiras.
Quilombo do Barro Branco
Localizado na divisa das cidades de Belo Jardim e São Bento do Una, no Agreste Central de Pernambuco, o Quilombo do Barro Branco foi uma das comunidades quilombolas mais recentes a conseguir a certificação do Governo Federal.
O Incra considera a comunidade como pertencente ao município de São Bento do Una. No entanto, historicamente e culturalmente, o Barro Branco recebe a atenção do município de Belo Jardim. Longe dos impasses territoriais, as cerca de 80 famílias se dividem entre sanar as dificuldades socioeconômicas e disseminar suas raízes para as gerações seguintes.
“Em 2002, quando começamos a nos organizar enquanto comunidade quilombola, pautamos dentro do quilombo, além das nossas dificuldades, nossos anseios, nossas partilhas e vivências, passamos a escutar as pessoas mais velhas da comunidade, com isso, passamos a buscar políticas públicas que nos possibilitasse nos reconhecer enquanto comunidade sem perder os valores trazidos da nossa origem”, declarou Elaine Lima, presidente da comunidade.
Quilombo Negros do Osso
Próximo a Belo Jardim, precisamente na zona rural do município de Pesqueira, está a Comunidade Quilombola Negros do Osso. Ela é formada por cinco núcleos comunitários que juntos somam 4,5 hectares de área. A população residente corresponde a cerca de 200 habitantes, distribuídos entre 42 famílias.
A história da comunidade se constitui na posse e ocupação da terra por Manuela e suas duas filhas, que vindas do sul de Pernambuco em busca de liberdade, se fixaram na Terra do Osso e ali passaram para seus descendentes, por meio dos costumes e canções, as crenças e valores dos seus antepassados.
Comunidades quilombolas em Passira
Em Passira, no Agreste Setentrional, vivem duas comunidades quilombolas certificadas: Cacimbinha e Chã dos Negros, com 25 e 150 famílias, respectivamente.
A comunidade Chã dos Negros possui um diferencial da maioria dos remanescentes de quilombos do Agreste, ela não é composta apenas por negros, mas também por descendentes dos povos indígenas que ocuparam a região antes da emancipação da cidade, em 1963.
Comunidades quilombolas e suas características
As comunidades quilombolas, em sua maioria, se formaram em áreas rurais e estão presentes em locais de topografia acidentada, como serras e chapadas, e de difícil acesso. A escolha por se fixarem em espaços com essas características se dava pela facilidade de vigiar a região e mantê-la longe de perigos.
Muito da cultura e dos costumes vividos nas comunidades quilombolas são de matrizes africanas, sobretudo no que se refere as formas de utilização da terra, técnicas de construção, artesanato e religião.
As lavouras são comunitárias, todas as famílias contribuem e por isso toda a semeadura é de usufruto coletivo. A pecuária gira em torno da criação de pequenos animais, como galinhas, porcos e cabras e alguns para transporte, como burros e cavalos. O candomblé é a religião mais seguida pelos povos dos quilombos e a arte se manifesta, principalmente, por meio das danças folclóricas, como a capoeira.
Qual a importância das comunidades quilombolas?
Por manterem uma forte ligação com sua história, essas comunidades trazem consigo os valores tradicionais enraizados da cultura africana, o que fortalece o sentido de identidade do grupo.
As canções, as danças, as histórias contadas para as novas gerações possibilita que o grupo se apresente para toda a sociedade como parte da formação do país, junto aos indígenas e europeus, além de mostrar seu passado de luta e resistência.
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O artista Olegário Lucena, natural de Taquaritinga do Norte, radicado em Santa Cruz do Capibaribe, cidades do Agreste de Pernambuco (região Setentrional), e com produções