O artesanato pernambucano vem ganhando cada vez mais destaque no âmbito nacional e internacional, por isso algumas artesãs do Agreste se tornaram famosas dentro e fora do país.
Através do barro, madeira, fios e outras matérias primas, essas mulheres levam mais do que a renda para a própria família e comunidade, elas elevam o fazer artesanal no Estado e contribuem com a riqueza cultural pernambucana.
Espalhadas pelo Agreste, essas artesãs e mestras ganharam notoriedade através de projetos governamentais que visam o fortalecimento da cultura brasileira, como o Programa do Artesanato de Pernambuco (Pape) e o Programa do Artesanato Brasileiro de Pernambuco (PAB-PE).
7 artesãs do Agreste para você conhecer
O artesanato no Agreste de Pernambuco ganha diversas formas. A depender da região de desenvolvimento do Estado, vamos encontrar mulheres trabalhando com barro, madeira, renda, bordado etc. Conheça a seguir algumas das principais artesãs do Agreste e os trabalhos que elas desenvolvem!
1. Simone Souza
Apesar de ser natural de Itaíba, Agreste Meridional, Simone Souza desenvolveu seu estilo no artesanato quando já morava no Vale do Catimbau, em Buíque.
“O artesanato sempre esteve presente na minha vida desde criança. Eu já fazia artesanto de uma forma diferenciada, junto com os meus pais. Então tinha um trabalho de madeira que a gente já fazia e também tinha um trabalho de cipó. Mas isso coisa de criança mesmo”, lembra a artesã, em entrevista exclusiva ao Viva Agreste.
Há 25 anos iniciou um trabalho no sítio para que mais mulheres pudessem trabalhar com artesanato. Para criar a cooperativa feminina, precisou fazer diversos cursos. Entre uma aula e outra, conheceu Luiz Benício, famoso artesão de madeira da região, com quem aprendeu a desenvolver suas habilidades com a madeira.
“Trabalho com crochê e com pintura, mas é praticamente meu hobby. Hoje, a minha profissão é a escultura”, assgura.
Assim como a maioria dos artesãos do Vale do Catimbau, Simone Souza trabalha com a madeira reciclada. Além de estar situada em uma área de preservação ambiental, a artesã explica que não corta árvores para criar as peças, mas que dá vida às madeiras já mortas.
“Eu trabalho muito com a questão do cotidiano, então tem figuras femininas que eu represento de um modo geral. E tem também a questão da fauna e da flora, que a gente representa bastante, como o cacto e os animais. Então, a gente praticamente dá uma nova vida aquela madeira que já estava morta e faz uma escultura”, conta Simone.
As obras são esculpidas em diferentes madeiras encontradas na região, como a umburana, jaqueira e a algaroba, que são mais resistentes. Além do carcará, que apesar de resistente é ideal para fazer peças mais sensíveis, como um tripé para a escultura de uma fotógrafa.
A artesã explica que leva de duas a três semanas para fazer as peças, e suas obras são apenas talhadas, trabalhando com a madeira crua.
“Hoje meu produto está no mundo inteiro. Eu tenho loja direcionada, galeria em Berlim e no Brasil inteiro. Mas também é possível comprar comigo diretamente, através do telefone: (87) 99920-8471″, informa.
Outras 19 pessoas trabalham com ela direta ou indiretamente. Orgulhosa, ela comenta que o filho Lindomar é um desses profissionais. “A primeira peça que ele fez foi com 4 anos. Tá com 17 anos agora e ele hoje tem peças produzidas, muitas expostas até fora do Brasil”, finaliza.
2. Dona Odete
Odete Cavalcanti Maciel nasceu no berço da renda renascença no Brasil, na cidade de Poção, Agreste Central. No município, foi aluna da primeira turma de artesãs da renascença, ministrada pela pesqueirense Áurea Jatobá.
Durante muitos anos, as alunas se encontravam em uma casa pequena para fazer a renda. Eram poucas artesãs e elas não podiam comentar com ninguém sobre as atividades que desempenhavam.
Com o passar do tempo, Odete Cavalcanti assumiu as aulas e aumentou o grupo de alunas. “A gente se mudou para um salão e abri as portas para quem quisesse aprender. Cheguei a ter 40 alunas vindas, inclusive, da Paraíba. Era um trabalho difícil, feito à luz de candeeiro quando as luzes da cidade se apagavam, às 22h. O rosto da gente ficava preto com a fuligem e tínhamos que ter sempre ao lado uma bacia com água e limão para lavarmos as mãos por causa do suor”, recorda em entrevista ao Portal do Artesanato.
Depois de casada, foi morar em uma outra importante cidade para esse trabalho artesanal, Pesqueira, também no Agreste Central. Na cidade, tornou-se professora da renda renascença através da prefeitura, atuando durante 25 anos.
Dona Odete carrega hoje o título de mestra do artesanto brasileiro e é um dos patrimônios da cultura pernambucana. Com 95 anos de idade, ela mantém seu trabalho e garante que vai continuar até onde for possível.
“Quando a gente começa a fazer renascença, tira tudo de ruim da cabeça. Apesar de ser um trabalho difícil, que exige muito de quem faz, e que não tem reconhecido o valor que merece, é um trabalho importante tanto que deixo de ir às festas para ficar em casa. Vou continuar a trabalhar até quando Deus quiser”, assegura.
É possível comprar as peças dessa mestra em lojas de artesanato por todo o país e até fora dele. Em Pesqueira, basta procurar a Rua Cardeal Arcoverde, 140, Centro. Ou buscar por informações pelos telefones: (87) 3835.1497 e (87) 99959.4704.
3. Cida Lima
Uma distância de 30 km separa Pesqueira de Belo Jardim, seguindo pela BR-232. E é na Cidade dos Músicos que encontramos a artesã Cida Lima, famosa pelas cabeças de cerâmica que produz.
Nascida no Sítio Rodrigues, zona rural de Belo Jardim, Cida conta que começou a trabalhar com barro ainda criança. “Com oito anos eu já fazia as peças direitinho. Fazia pra comprar roupa, calçado, comida e pra ajudar minha vó (…). Lembro que a gente catava os restos de terra que o pessoal deixava, aguava, pra depois fazer as pecinhas pequenas. Dava pra fazer panela, tigela e jarras de colocar água”, lembra em entrevista ao Portal do Artesanato.
A infância foi de muitas dificuldades, porque além do barro a artesã também trabalhava como faxineira para ajudar a pagar as contas de casa.
Em 2005, Cida Lima e outras louceiras do Sítio Rodrigues passaram por uma consultoria com a artista visual Ana Veloso. Com esse contato, as mulheres começaram a produzir outros tipos de peças além de pratos, panelas e travessas.
A partir de então, Cida e toda sua família criaram peças únicas, como as cabeças gigantes que fizeram o maior sucesso nas feiras de artesanato. Em 2011 entrou na Fenearte como mestra e suas peças estão espalhadas pelo Brasil e outros países.
“Eu sou uma pessoa realizada. Eu nunca pensei que por causa desse trabalho meu eu fosse chegar até onde cheguei”, afirma.
Para adquirir as peças de Cida Lima, basta entrar em contato com a artista através do telefone: (81) 99258-9346, ou visitar o ateliê da mestra no Sítio Rodrigues.
4. Luiza dos Tatus
Luiza dos Tatus também é uma artesã de barro nascida e criada no Sítio Rodrigues. Aprendeu o ofício com sua tia Dite e desde os 9 anos que trabalha fazendo peças de cêramica.
No íncio, Luiza fazia panelas, tigelas, tacho e outros itens domésticos. Essas peças eram vendidas a R$ 1 na feira de Belo Jardim, então ela precisava completar a renda da família pescando e comercializando os peixes na feira.
“Eu pescava a semana todinha e as peças ficavam pra lá, tudo seca. Depois eu quebrava tudo de novo e colocava pra lá, porque eu achava melhor tá pescando, pois na pescaria eu tava conseguindo arrumar peixe pra vender”, relembra a artesã em entrevista ao Viva Agreste.
Assim como Cida Lima, Luiza também passou pela consultoria de Ana Veloso e mudou o estilo das peças que produzia. Atualmente, a artesã trabalha fazendo os animais que são encontrados na região, como iguanas, tartarugas, lagartixas, sapos e os tatus, que lhe deram a fama.
“As tartarugas também são bem bonitinhas, mas o tatu tira em primeiro lugar aqui. Todo mundo que vem atrás, vem atrás do tatu”, explica.
Em 2020, Luiza recebeu o título de mestra do artesanato brasileiro. Além dela, o esposo João Silva, a filha Carol Silva e outras pessoas do Sítio Rodrigues trabalham com barro, gerando renda para a família e para comunidade.
“Minha filha, a coisa mais importante que tem é ajudar a comunidade. Se eu pudesse, ajudava as pessoas. Sou uma pessoa que gosta de ajudar, fazer festa para as crianças, eu gasto e recebo ajuda também. Eu não posso ver uma pessoa chegar e dizer que tá precisando comprar algo, principalmente remédio. Não sei dizer não, eu pelejo pra dizer, mas eu não sei”, conta.
Quem quiser comprar as peças de Luiza e conhecer mais sobre a mestra, entre em contato com Carol pelo telefone: (81) 98219-2002.
5. Nicinha Otília
Cleonice Otília, conhecida no Alto do Moura como Nicinha, é uma das artesãs famosas do Agreste. Em uma palestra no TEDxAltodoMouraED, ela conta que começou com o barro por pura necessidade.
Aos 7 anos, vendo as amigas brincando com bonecas, pediu aos pais para ter uma igual. O pai, também artesão, deu um bolo de barro nas mãos da menina e disse para ela criar os próprios brinquedos. Foi ali que começou a criatividade de Nicinha.
A brincadeira de criança se tornou também uma fonte de renda para ela. Com a venda do seu primeiro boneco, ela começou a ter dinheiro para comprar o que quisesse, entre roupas e brinquedos.
“Através do barro dá pra gente ganhar nosso dinheiro, ser mais vista, escrever o que a gente quiser. Ele significa uma caneta sem bico, porque com ele vou modelando minha arte, estou escrevendo o que eu vejo, a minha imaginação, a minha poesia e o que eu quero passar através do barro. Ele nos dá esse poder”, diz a artesã.
Hoje, com 65 anos de idade, a mestra Nicinha conta que o barro transformou sua vida, por isso chama a matéria prima de ouro negro. E ela também ajuda outras mulheres do Alto do Moura a ter suas vidas transformadas através do artesanato.
Em 2016, o grupo Flor do Barro foi criado para dar mais visibilidade ao trabalho das mulheres artesãs do Alto do Moura. Atualmente, são 20 ceramistas que trabalham em conjunto para preservar e valorizar a arte e cultura locais.
Além de trabalhar com a arte figurativa, produção tradicional deixada por Mestre Vitalino, Nicinha também atua com a produção de peças utilitárias e trabalhos mais autorais, onde ela coloca toda a criatividade. Foi assim, inclusive, que fez a braçadeira, boneca de braços longos que simboliza o afeto e o abraço com que o Alto do Moura trata seus moradores e turistas.
Os trabalhos da mestra podem ser adquiridos no ateliê e loja localizado no Alto do Moura, mas também estão disponíveis nas principais lojas de artesanato do Brasil.
6. Lúcia Firmino
Também reconhecida como mestra artesã, Lúcia Firmino trabalha com bordado desde criança, aprendendo o ofício com a mãe. O trabalho com fios foi repassado entre as diferentes gerações da família.
Moradora de Passira, Agreste Setentrional de Pernambuco, a mestra faz sucesso com seus produtos, que vão desde passadeiras até roupas.
Passira é reconhecida pelos famosos bordados, e desde 2014 conta com a Associação das Mulheres Artesãs de Passira (AMAP). Líder do grupo, Lúcia é a principal responsável pelos desenhos que estampam os produtos e repassa seus ensiamentos para todas as mulheres que desejam aprender.
“Eu só vou deixar de bordar quando eu não conseguir fazer mais nada”, assegura Lúcia.
Atualmente, o grupo de mulheres possui 40 artesãs, e entre seus principais produtos estão as roupas infantis. Para comprar os bordados, basta entrar em contato pelo telefone: (81) 99775-6300, ou acessar o Instagram da AMAP.
7. Dona Damiana
Aos 13 anos de idade, Damiana Maria de Lima aprendeu na escola a técnica frivolité, renda francesa também conhecida como espiguilha ou rendilha. Filha de agricultores e moradora da zona rural, Dona Damiana viu nesse ofício a oportunidade de trabalhar com aretsanato.
A cidade que lhe acolheu foi Orobó, conhecida como a “Terra do Frivolité”. Também situada no Agreste Setentrional, Orobó tem uma grande concentração de artesãos dessa área.
A técnica francesa consiste em criar uma renda através da linha do crochê e nós, sem o uso de costuras. As artesãs trabalham fazendo nós e laços em formas de anéis e arcos até finalizar a peça.
“Eu vivo dessa arte, é meu trabalho. Não deixo de fazer, acho que vou morrer fazendo o frivolité“, conta Dona Damiana aos risos, em entrevista ao Portal do Artesanato.
Além de fazer essas peças, a mestra também ensina, repassando seus conhecimentos para outras mulheres de Orobó. Juntas, as artesãs criaram uma Associação, que já conta com mais de 40 participantes.
As peças de Dona Damiana vão desde toalhas de mesa até vestidos de noiva. Elas podem ser adquiridas nas feiras de artesanato, como a Fenearte, mas também através do telefone:(81) 99764-4977.
Diz aí, gostasse de conhecer essas 7 artesãs famosas do Agreste? Então cuida de fazer uma visita a essas mulheres para se encantar ainda mais com seus trabalhos! E aproveita e já compartilha essa matéria com quem ama artesanato pernambucano.